Entrevista Paulo Silvestre: Direito em Transformação

Paulo Silvestre compartilha com a Turivius um pouco sobre o lançamento do livro Direito em Transformação.
Equipe Turivius
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Não há dúvidas, estamos em meio à transformação do Direito. Paulo Silvestre, especialista em desenvolvimento estratégico de escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, lança no dia 29 de março o seu primeiro livro sobre o tema: Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados.

transformação digital

Em seus 6 capítulos, o livro aborda a importância da inovação e da transformação no mundo jurídico. O autor destaca de que forma essa transformação digital vem ocorrendo e como a cultura organizacional é a chave para o sucesso da implementação de novas tecnologias.

Em uma leitura clara e objetiva o livro já vem sendo conhecido como uma “consultoria gratuita para o jurídico”, visto que entrega ao leitor o passo a passo de como conseguir realizar e se adaptar à transformação digital.

Danilo Limoeiro, CEO da Turivius, realizou uma entrevista com o especialista Paulo Silvestre sobre o livro, que já é sucesso de vendas antes mesmo do lançamento, e sobre como ele auxiliou para que o processo de implementação da tecnologia Turivius fosse um sucesso no jurídico do escritório Machado Meyer, confira:

Você acredita que o mercado jurídico já está preparado para viver esse novo momento de transformação tecnológica ?

Danilo,  eu acho que o mercado jurídico está mais do que pronto para isso.  Certamente ainda tem um longo caminho a ser percorrido.  Penso que um dos principais desafios que surgem à medida que a tecnologia avança dentro do Direito está muito relacionado à atualização, ao desenvolvimento profissional para que se possa acompanhar a velocidade desta transformação, que é muito alta. 

Eu acho que é importante que esses profissionais precisam se manter atualizados em relação a essas ferramentas e em relação aos recursos hoje disponíveis, para que eles possam oferecer um serviço cada vez mais eficiente, mais adequado e mais alinhado às expectativas dos seus clientes. 

Outro ponto que é extremamente importante é em relação à adaptação.  Como você bem falou, o Direito está passando por profundas mudanças, o avanço tecnológico está incorporando uma série de elementos que já estão transformando o setor jurídico. Embora alguns advogados possam se sentir um pouco desconfortáveis  em relação a essa transformação, é de extrema importância que eles consigam perceber as oportunidades que essas tecnologias oferecem. 

Como eu disse, não só para que eles possam prestar um serviço mais eficiente, com mais eficácia e centrado no cliente,  mas também para que eles possam eventualmente ter mais qualidade de vida no seu dia a dia. 

Uma coisa que ficou clara no cenário pós-pandemia é que a transformação digital é muito mais possível do que se imaginava.  E também o Covid-19 evidenciou a importância de se colocar as pessoas no centro da transformação. 

Qual a sua visão sobre o papel da cultura organizacional na aderência às ferramentas de tecnologia jurídica.

Eu sempre falo que a cultura é a alma da organização.  Eu acho que é nela que se compreende os conflitos claros de valores, de comportamento que definem como as atividades e como as relações devem ser desenvolvidas dentro de uma organização. 

No cenário atual é muito importante que haja um esforço coletivo da liderança em implementar e disseminar essa cultura orientada à inovação.  Isso em todos os níveis. É necessário investir em pessoas, em treinamentos e capacitações  para que elas possam desenvolver as habilidades necessárias para lidar com essas mudanças e esses desafios que surgem com a transformação digital

Um dos pontos que eu sempre digo também, Danilo, é que quanto mais a tecnologia está acessível e disponível para todos, menos ela se torna um diferencial competitivo.  As pessoas sempre foram fundamentais nesse processo, mas eu acho que elas passam a ter uma relevância ainda maior à medida que a tecnologia acaba estando mais acessível e disponível para todos.

Leia também: Cultura organizacional nos escritórios de advocacia

Há diferença na incorporação de novas tecnologias  entre departamentos jurídicos e escritórios?

Eu acho que tem sim uma diferença. Quando a gente fala de um departamento jurídico, geralmente a gente está falando de uma empresa que certamente a inovação era mais permeável.  Então, o mindset desses profissionais geralmente está um pouco descolado da realidade da advocacia.

A advocacia ainda tem uma visão muito conservadora em relação a esses movimentos que vêm acontecendo.  Como você bem colocou, a cultura é fundamental nesse processo de transformação, porque é ela quem define os padrões comportamentais, os valores que orientam as ações dos colaboradores.

Quando a gente fala da cultura organizacional,  a gente não está falando isso pelo fato de simplesmente ser um idealismo. O fato é que essas novas gerações de profissionais  são cada vez menos influenciadas pelas placas das advocacias, o que coloca a cultura da organização no centro do debate sobre o futuro da profissão.  Não é difícil você ter profissionais que estão deixando a advocacia e seguindo para departamentos jurídicos em virtude da cultura. 

O setor ainda é conservador na aquisição e incorporação de tecnologia.  De onde vem esse conservadorismo?

Eu acho que muito em virtude da formação do advogado. Ainda hoje, a grade curricular do Direito está desconectada com a realidade atual e das necessidades do mercado.

Quando você analisa a grade curricular, existem uma série de lacunas.  O que a gente percebe é que advogados e escritórios de advocacia estão mudando a sua jornada de desenvolvimento. 

Até pouco tempo atrás, você via advogados cada vez mais especializados em suas áreas de atuação.  O que a gente percebe é que hoje o advogado sai da graduação e vai fazer ou uma segunda graduação fora do Direito, ou uma pós-graduação em ciências contábeis, ou alguma área voltada para o business. 

Inclusive, os escritórios têm incentivado esse tipo de movimento, justamente para cobrir essas lacunas que o Direito em si deixou.

Você vê esse movimento também com profissionais mais jovens do Direito que selecionam onde eles vão trabalhar por conta da cultura ou não?

Eu percebo que as placas, em especial para essa próxima geração de advogados, influenciam menos nas suas tomadas de decisão.  Quando a gente tem uma cultura forte e alinhada com os objetivos, com as estratégias de organização, isso certamente é um fator que motiva, que engaja os colaboradores que ali estão, mas também ela tem um papel fundamental na atração dos talentos que compartilham dos mesmos valores. 

E não só isso, Danilo, quando a gente vê esse avanço tecnológico, e voltando para essa nova geração de profissionais que estão deixando as suas universidades agora, que são nativos digitais, eles esperam um modelo de trabalho diferente. 

Eles já não querem mais fazer aqueles trabalhos mecânicos, operacionais, porque existe uma perspectiva diferente em relação a isso, as expectativas, as ambições são diferentes.  E como você falou também, às vezes o fator salário, penso eu que na grande maioria, não é o que influencia hoje na escolha de um lugar para se trabalhar.

Paulo, tem outro ponto que você traz no seu livro, que é em relação às habilidades necessárias para o profissional bem-sucedido no futuro, ou mesmo no presente.  Quais seriam essas habilidades?

O advogado já hoje precisa desenvolver uma série de habilidades e competências comportamentais, que o pessoal acaba chamando de soft skills. Habilidades como criatividade, liderança, inteligência emocional, capacidade analítica e pensamento crítico. 

O Fórum Econômico Mundial trouxe esses pontos aqui como pontos fundamentais para qualquer posição.  É muito importante compreender o funcionamento do negócio, não só sob o ponto de vista jurídico, mas a partir de um conjunto de percepções que estão profundamente ligados com os objetivos do negócio do cliente

Por isso, uma visão holística do advogado é muito importante para que ele possa muitas vezes antecipar situações  ou até mesmo oferecer serviços que sequer o cliente sabia que precisava.  Existe aqui uma mudança de mentalidade onde o advogado precisa adequar à prática,  a um mundo remoto, a um mundo altamente hiperconectado e altamente tecnológico.

Qual é a estratégia para o advogado se preparar diante dessas novas expectativas de exigência dos seus clientes, que você cita no livro?

Eu sempre falo que essa transformação é muito mais impulsionada pela mudança nas expectativas do cliente, não só pelo avanço tecnológico.

E talvez a gente acabe percebendo isso mais por estar dentro de um grande escritório e a grande maioria dos nossos clientes também são atendidos por escritórios internacionais. Isso acaba refletindo de uma forma talvez muito mais rápida do que um escritório de menor porte. 

A transformação digital é fundamental, desde que ela consiga utilizar essa tecnologia para aprimorar os seus processos internos, aumentar a eficiência e oferecer um serviço cada vez mais personalizado e eficaz.  Quando a gente consegue trazer tecnologia para suportar o dia a dia do advogado, certamente ele terá mais tempo para focar naquilo que é realmente estratégico para o seu dia a dia, como por exemplo olhar para a jornada do seu cliente.

Então, esse talvez seja um dos fatores mais importantes em um cenário em que a tecnologia já está se tornando uma commodity, que o advogado consiga desenvolver ações centradas no cliente.

Você tem visto os escritórios incorporando esses conceitos de jornada do cliente, sucesso de cliente, ou é uma coisa que ainda o setor está tendo desafios a incorporar?

O setor de maneira geral ele vem amadurecendo.  Eu acho que está ficando claro que seguir o efeito manada na noção de tecnologia não é uma boa estratégia. Como eu falei anteriormente, a tecnologia está acessível e disponível para a grande maioria dos escritórios de advocacia e pensar na jornada do cliente torna-se fundamental. 

Contudo, eu penso que ainda existe um preconceito em ouvir o cliente, em eventualmente ter um feedback,  seja ele positivo ou negativo.  Mas eu vejo que sim existe um movimento dos escritórios de advocacia que estão olhando para isso,  estão desenvolvendo estratégias centradas nos clientes para que se possa obter o maior êxito. 

Eu acho que um dos pontos que a gente começou falando, sobre repensar os moldes, como se formam os profissionais do Direito,  é também uma questão fundamental para que se possa atender as expectativas dos clientes. 

É preciso que a formação desses novos advogados estejam alinhadas com as novas demandas do mercado  para que de fato eles possam atuar de uma forma mais eficiente, de uma forma mais inovadora,  com habilidades e competências cada vez mais voltadas para resolução de problemas,  prestação de um serviço que possa agregar um maior valor para os clientes.

Como que os escritórios vão ajudar nessa formação, sendo que essa formação não é feita totalmente por eles?

Essa é a missão dos advogados e escritórios de advocacia e também dos departamentos jurídicos,  de investirem em novos treinamentos e em novas capacitações. 

O movimento que eu disse há pouco, de perceber que tem mais advogados indo fazer uma segunda graduação em matéria totalmente fora da sua área, já mostra que existe um movimento natural na percepção  de que algo precisa ser feito para justamente cobrir essas lacunas. 

Não só os escritórios de advocacia aqui no Brasil, mas fora, têm incentivado que esses profissionais se desenvolvam em outras áreas.  Além disso, a internet hoje traz uma infinidade de conhecimento e recursos  para que o advogado possa se familiarizar com essas temáticas mais atuais,  como aquelas que a gente vem falando muito, como o chatgpt,  entendendo um pouco mais das implicações que determinadas tecnologias oferecem à sociedade.  E o Direito, eu sempre digo, tem que andar em total concordância com o desenvolvimento tecnológico.

Quais seriam as principais dicas para quem quer ser um profissional extremamente bem-sucedido no Brasil nos próximos 10 a 15 anos?

Eu acho que é importante compreender as profundas mudanças pelas quais passa o setor jurídico, especialmente em relação aos elementos disruptivos trazidos pelo avanço tecnológico. É importante entender a forma como essas mudanças afetam ou como o advogado exerce a sua atividade, como eles podem aproveitar todas essas transformações para que eles possam se destacar. 

Quando a gente fala de tecnologia, a gente não está falando só da tecnologia que potencializa aquilo que o advogado faz, mas também de todas as oportunidades que ela traz para o Direito. Logo, é fundamental que o advogado tenha essa visão inovadora, que seja corajoso para propor soluções além do óbvio.  Eu acho que esse é um ponto fundamental.

Quais foram os principais desafios na implementação de uma tecnologia como a Turivius dentro do escritório Machado Meyer, por exemplo, e quais foram as vantagens?

O processo de implementação em si da ferramenta Turivius de Jurimetria foi bastante simples e rápida. A ferramenta trouxe grandes benefícios para o time jurídico, pois permitiu que os advogados tivessem acesso a uma gama de informações valiosíssimas. 

O que a gente percebe é que, cada vez mais, os advogados estão se identificando e se familiarizando com a ferramenta e conseguindo prever com maior precisão os desfechos de processos para desenvolver estratégias mais eficientes.

Além disso, a Turivius nos possibilitou ter uma economia de tempo bastante significativa e assim oferecer um serviço de maior valor agregado para os nossos clientes. O maior ganho aqui do nosso time jurídico com certeza foi a capacidade de tomar decisões orientadas por dados.

Você tem visto esse movimento data-driven também no mercado?

Sim e eu sempre digo que o custo de uma ferramenta de Jurimetria é muito, muito pequeno em relação ao valor que ela entrega.  Todo advogado deveria contar com uma ferramenta como a Turivius para identificar padrões, extrair insights que o ajude a antecipar cenários e para que eles possam desenvolver estratégias que sejam mais eficientes. 

Percebo que o mercado também vem amadurecendo em relação a isso.  Até pouco tempo atrás, era um tema completamente novo e existia certa desconfiança em relação ao uso dos dados apresentados por uma ferramenta de Jurimetria.

Já hoje, mudou completamente.  O advogado entendeu que a ferramenta é um grande aliado para que ele possa desenvolver um trabalho mais fácil, mais produtivo, mais lucrativo,  além de permitir que eles possam atender clientes com maior precisão e agilidade.

Qual foi o desafio de escrever o livro “Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados”?

Vou começar respondendo que valeu a pena, apesar do desafio.  Eu já trabalho no setor jurídico desde 2010 e eu sempre tive muita clareza do quanto eu podia colaborar  com o desenvolvimento do setor como um todo. 

Em 2014, eu criei um grupo no LinkedIn “Inovações Mercado Jurídico”. Na época, eu comecei a fazer uma série de provocações para os advogados, comecei a chamar os advogados para que eles pudessem participar dessas discussões. 

Por duas vezes eu fui chamado de maluco quando eu dizia que a tecnologia teria sim potencial  para substituir algumas atividades que eram desenvolvidas pelos advogados.  Isso porque eu vim de outras indústrias, como a indústria farmacêutica,  eu tive uma rápida passagem pelo setor financeiro.  Então, para mim era muito claro o potencial da tecnologia dentro do Direito. 

Com a chegada da pandemia, eu comecei a receber inúmeros contatos de colegas, que por vezes se viam perdidos diante daquela situação, porque foi uma situação muito trágica para o mundo inteiro, eu comecei a ajudar os colegas, a contribuir de alguma forma,  trazer um pouco de resposta para aqueles questionamentos.

Depois de uma provocação de uma colega, ela leu um livro, pesquisou conteúdos na internet e num bate-papo de quase duas horas  ela ficou super satisfeita com a nossa conversa e ela me incentivou, fez uma provocação,  disse, “Paulo, por que você não escreve um livro?“.

Então isso foi uma grande inspiração, para ela foi um trabalho adicional porque ela acabou contribuindo na revisão do conteúdo, mas foi um processo bastante enriquecedor, ainda que desafiador.

Fazer a estruturação de um livro é um desafio e tanto, mas foi muito enriquecedor e me trouxe muitas reflexões. O livro “Direito em Transformação – Estratégia e Inovação para Advogados” foi desenvolvido em torno das pessoas, porque eu percebi ao longo da minha trajetória dentro do jurídico que o fator mais importante dentro de uma organização, que são as pessoas, foi negligenciado.

A expectativa é que este livro possa apoiar os advogados e mesmo aqueles que não são advogados, mas compõem o ecossistema jurídico, a enfrentarem esses desafios e aproveitar essas oportunidades que surgem em meio à transformação digital. É uma obra que, na minha perspectiva, é indispensável para aqueles que desejam se manter atualizados e preparados para as mudanças que estão por vir.

Direito em Transformação_3

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